domingo, 14 de junho de 2009

TOTALITARISMO E INTOLERÂNCIA - cartas de leitores

Cartas de apoio ao excelente artigo do Carlos Alberto Di Franco publicado no Estadão dessa semana.

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Gostaria de manifestar os meus cumprimentos ao Prof Carlos A. Di Franco por mais um artigo brilhante, esclarecedor e de alerta ao que se assiste, de modo despudorado, pela sociedade brasileira e patrocinado pelo governo, em favor de uma minoria "totalitária". É tempo de nos manifestarmos em função do pensamento livre, onde naturalmente ocorrerão divergências, mas não podemos nos calar diante da "imposição" de uma "nova realidade dos tempos". Espero que as palavras de Di Franco cheguem ao nosso Secretário de Educação e ao Governador para que atitudes desta ordem não destruam de vez, a sofrida educação oferecida ao Estado de São Paulo.
Valdir Reginato , Médico, Pesquisador do Centro de História e Filosofia das Ciências da Saúde da Unifesp, vreginato@uol.com.br
São Paulo



O FIM DO CRIME DE PEDOFILIA
Muito oportuno o artigo "totalistarismo e intolerância" (01/06, A2). Carlos Alberto Di Franco denunciou com ousadia o que poucos têm tido coragem de falar: a intolerância galopante dos ideólogos do pan-homossexualismo. Cooptaram o Governo para promover não simplesmente o respeito que toda pessoa merece, pelo fato de ser cidadão. Querem mais: desejam promover gerações homossexuais, desde a infância. E trabalham para que o Governo obrigue as escolas a participar dessa tarefa, ao impor uma cultura pan-homossexual e, como consequência, pan-pedófila. Veja-se: os manuais de educação sexual vão incentivar que as crianças experimentem - e sejam experimentadas, portanto - práticas homossexuais, "ensinadas" na escola como coisa normal e saudável. Se isso caminhar, o que dirá a opinião pública e o governo quando um rapaz de 12 anos, talvez simplesmente inseguro e retraído com as moças, fato comum na adolescência, buscar um adulto homossexual de 18 anos para um "exercício de casa", estimulado pelo que leu nos livros da escola? Nesse contexto: poderá o sujeito de 18 anos ser acusado de pedófilo? Aliás, fará sentido ainda perseguir redes de exploração da pedofilia pela internet, quando as próprias escolas estiverem a estimular a conduta de oferecimento homossexual nas crianças? Afinal, de quem será a responsabilidade? Será que os pais já perceberam onde isso vai parar? Deve haver tolerância para esse tipo de "educação"?
Antonio Jorge Pereira Júnior, Professor universitário, Doutor em Direitos da Criança e do Adolescente - USP, pereiraj@usp.br
São Paulo



DI FRANCO
Parabéns professor Carlos Alberto Di Franco pelo brilhante artigo "Totalitarismo e Intolerância" (01/06). Alinhado ao seu pensamento, é com sentimento de perplexidade que vejo o tratamento dado à educação pelo governo (federal, estadual e municipal). Estão se preocupando com a quantidade (unidades construídas e vagas disponíveis) porque os números poderão ser apresentados e vistos nas campanhas eleitorais. Não estão dando a importância e o respeito à qualidade da formação de um autêntico cidadão. Há uma clara hipocrisia nessa história de "cidadania" inserida nesses programas educativos atuais. Senhores administradores públicos, esses assuntos podem e devem ser tratados mas, tudo no seu devido tempo. Vamos com mais cuidado! Dessa maneira os senhores estão plantando uma cultura extremamente nociva para as gerações futuras.
Pedro Alves Miranda, pamirandal@hotmail.com
São Paulo



CORAGEM
Parabéns pela liberdade de expressão que se verifica nesse jornal. Tem muito jornal que se diz "plural" mas não publica um artigo como o que li hoje na página 2 do Estadão. Ao Carlos Alberto Franco, obrigado pela coragem de expressar o que muitos brasileiros pensam. No almoço, comentei com colegas sobre o artigo e todos concordaram com o seu artigo. Isso me deu ânimo para enviar esse e-mail. Obrigado, novamente.
Nicolas Noronha, nicolas.noronha@gmail.com
São Paulo



Garantir direitos humanos e cidadania ... e também o diálogo! Concordo com o professor Carlos Alberto Di Franco: precisamos ficar atentos à intolerância dos "tolerantes" que, usando a bandeira de minoria discriminada, não querem apenas o respeito que lhes é devido, querem ser exaltados na sua inquestionável "verdade". Isso é o que ocorre com as propostas da ONG ABGLT (lésbicas, gays, bissexuais, travestis e transexuais). Eles precisam considerar que numa democracia é necessário garantir o direito que todos têm de serem respeitados em suas diferentes formas de pensar. É preciso que haja o diálogo na adversidade. Apenas assim haverá a verdadeira garantia de direitos e cidadania.
Maria Amélia Giannini, magiannini@uol.com.br
São Paulo

sexta-feira, 12 de junho de 2009

O ESTADO E O ABORTO

Ogeni Luiz Dal Cin*

Vem se firmando um princípio de que quem se elegeu pagou, ipso facto, todas as suas dívidas passadas, inclusive as cometidas no exercício do Poder Legislativo. Assim, os fins justificam os meios: amealhar amigos e dinheiro para garantir a reeleição é sinônimo de prova de absolvição de qualquer acusação legislativa. Essa é imoralidade para nós pobres mortais, mas ação democrática para os nossos legisladores, e isto prova muito bem como é exercido o Poder do Estado pelos nossos representantes. Ao Estado tudo é possível.

Ora, o Poder Legislativo, com esse Poder de Estado nas mãos e essa consciência dos valores no coração, deixa o direito à vida do nascituro em perigo, transformando a vida antes do nascimento em uma questão meramente casuística, oportunista, a serviço de outros fins. O Poder Executivo mantém Comissão para fornecer material e argumentos ao Legislativo e põe ministros de Estado a profetizar a necessidade do aborto, como ação de Estado, ou seja, o Estado assume o papel de instituir o aborto. E, mesmo contrariando a Constituição, o Estado, pelo seu Legislador decide o que nos convém, já que está acima do cidadão, do direito, da moral, dos valores, da ética. O Estado diviniza-se e a vida se desumaniza.

O Estado caminha para ser a instância última e o titular de todos os direitos, mesmos os concebidos como direitos ontológicos do ser humano. Os direitos transformam-se, paulatinamente, em benesses do Estado , que é elevado a um estágio superior ao atribuído a cada ser humano. Os que chegam ao Poder limpam suas ‘culpas’ e encarnam virtudes do Estado para decidir, inclusive a respeito dos nossos direitos, e agem em nome e em proveito próprio como se estivessem a serviço da sociedade.

Tal Estado é herdeiro das filosofias ou da esquerda hegeliana – como o marxismo - ou da direita hegeliana - como o nazifascismo – os quais que se unem, momentaneamente, para reduzir o direito sagrado da vida humana, quando lhes convém. A vida, então, vale menos que os interesses pessoais do eleito. Os legisladores que não tomam partido diante dessa realidade, já tomaram o partido do seu próprio interesse. O direito à vida não é uma mera questão subjetiva, individual, porque esses são argumentos para enganar seus interesses escusos. Quanto mais inculta e analfabeta a população, quanto mais dependente do assistencialismo estatal, menos capacidade tem a população para se opor aos abusos do Estado.

Ora, como preservar a liberdade - esse o paradoxo do liberalismo - em detrimento da vida, se a liberdade supõe a vida e se a destruição da vida em nome da liberdade destrói a potencialidade da liberdade na vida violada? Destruir o outro antes que possa exercer sua liberdade para não precisar reconhecer-lhe a liberdade? - Daí o qualificativo de individualista a esse liberalismo iluminista, sem nenhuma abertura para o social, para o outro. E se a liberdade é apenas um epifenômeno transitório – para o marxismo e para o nazifascismo – de parte da matéria organizada em um ser chamado humano, a liberdade não passa de simples grau de concessão do Estado para o homem que se integra e pertence ao Estado.

Esse tipo de Estado pode então permitir que a mãe, o pai ou o médico mate seu filho no interregno arbitrário entre a concepção e a data preferida pelo divino Estado, Senhor desta fase da vida humana. É suficiente a permissão estatal, não importando mais a realidade ontológica e anterior da vida humana em relação à criatura-Estado.

De nada adiantou nosso constituinte definir, em cláusula pétrea, o direito à vida, sem nenhuma restrição, e defini-lo como direito superior e independente do Estado, se agora, por uma lei ordinária, na junção de interesses ideológicos e personalíssimos, já se considera casuisticamente mais que suficiente o intuito de legalizar o direito de matar a vida humana, antes do nascimento. Vida, sim, porque ninguém consegue provar a não existência da vida desde a concepção. Humana, sim, porque ninguém consegue definir que outra vida seja esta vida além de ser uma vida humana. O homo bios não pode prevalecer sobre o homo sapiens. E esta vida não tem o direito fundamental de existir? – O Estado que o diga.


* Ogeni Luiz Dal Cin é advogado e filósofo, membro da Comissão de Defesa da República e da Democracia da OAB-SP.


Americanos contra aborto pela primeira vez em 15 anos



Sex, 15 Mai, 03h38
WASHINGTON, EUA (AFP) - Pela primeira vez, em quase 15 anos, maioria de americanos pronunciou-se contra o aborto, apesar de 53% das pessoas ouvidas tolerarem, "em alguns casos", a interrupção voluntária da gravidez, segundo pesquisa Gallup publicada nesta sexta-feira.
De acordo com a sondagem, 51% dos americanos se disseram contra o aborto ("Pro-Life") enquanto 42% se mostraram a favor - um resultado inédito desde 1995, ano no qual o instituto Gallup começou a realizar regularmente pesquisas sobre o assunto.
"Isto representa uma mudança significativa em relação há um ano, quando 50% se declaravam a favor do aborto e 44% contra", explicou o Gallup, que ouviu 1.015 adultos entre os dias 7 e 10 de maio.

Poll: More Americans 'pro-life'

"This is the first time a majority of U.S. adults have identified themselves as pro-life since Gallup began asking this question in 1995."


Poll: More Americans 'pro-life'

http://www.washingtontimes.com/news/2009/may/16/poll-more-americans-pro-life/

Jennifer Harper (Contact) | Saturday, May 16, 2009

More Americans now say they are "pro-life" than "pro-choice," according to a Gallup poll released Friday.

A majority of respondents 51 percent are against the practice of abortion, while 42 percent classified themselves as being pro-choice.

"This is the first time a majority of U.S. adults have identified themselves as pro-life since Gallup began asking this question in 1995," said Gallup analyst Lydia Saad.

The findings represent "a significant shift from a year ago," when 50 percent of the respondents were pro-choice and 44 percent pro-life. The numbers of Republicans, Protestants, Catholics, conservatives, men and women who identify themselves as pro-life are all rising.

It seems a change in the White House has prompted the change of heart.

"With the first pro-choice president in eight years already making changes to the nation's policies on funding abortion overseas, expressing his support for the Freedom of Choice Act, and moving toward rescinding federal job protections for medical workers who refuse to participate in abortion procedures, Americans and, in particular, Republicans seem to be taking a step back from the pro-choice position," Ms.] Saad said.

Among Republicans, 70 percent are pro-life, up from 60 percent last year. The number who are pro-choice has fallen from 36 percent to 26 percent in the same time period. Sentiments among Democrats have remained steady for almost a decade: 61 percent of Democrats say they are pro-choice and 33 percent are pro-life, with insignificant variances over the years.

"It is possible that, through his abortion policies, President Obama has pushed the public's understanding of what it means to be 'pro-choice' slightly to the left, politically," Ms. Saad said. "While Democrats may support that, as they generally support everything Obama is doing as president, it may be driving others in the opposite direction."

Pro-choice groups, however, say the survey is far from the the final word on abortion rights.

"The findings in this Gallup poll do not square with the voting patterns in the last two elections cycles," said Nancy Keenan, president of NARAL Pro-Choice America. "It would be a mistake for anti-choice groups to interpret this one poll as a signal that Americans want even more interference from politicians in their personal, private decisions, including a woman's right to choose safe, legal abortion."

Totalitarismo e intolerância

Carlos Alberto Di Franco

Dois episódios recentes, em Brasília e em São Paulo , desnudam a visão totalitária e a intolerância ideológica que dominam estratégias de longo alcance na formação das novas gerações.

Comecemos por Brasília. O governo quer que seja incluída nos livros didáticos a temática de famílias compostas por lésbicas, gays, travestis e transexuais. Ainda na área da educação, recomenda cursos de capacitação para evitar a homofobia nas escolas e pesquisas sobre comportamento de professores e alunos em relação ao tema. Essas são algumas das medidas que integram o Plano Nacional de Promoção da Cidadania e Direitos Humanos de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais (LGBT), documento firmado por representantes de 18 Ministérios do governo Lula.

O texto traz 50 propostas que deverão transformar-se em política de governo até 2011. São medidas em diversas áreas. Na saúde, o grupo prevê acesso universal a técnicas de reprodução assistida a LGBT em idade fértil e recomenda o fim da restrição imposta a essa população para doação de sangue.

"É um marco na busca da garantia dos direitos e cidadania", afirmou o secretário de Direitos Humanos, Paulo Vanucchi, durante o lançamento do plano. Das propostas apresentadas, algumas estão em andamento. É o caso do reconhecimento da união civil de pessoas do mesmo sexo e da criminalização da homofobia. Projetos com essas propostas tramitam no Congresso. "Se elas não forem aprovadas neste governo, serão no futuro. É só questão de tempo", avaliou Vanucchi.

Vamos, caro leitor, a São Paulo. A Secretaria Estadual da Educação distribuiu a escolas um livro com conteúdo sexual e palavrões, para ser usado como material de apoio por alunos da terceira série do ensino fundamental (faixa etária de 9 anos).

O livro (Dez na Área, um na Banheira e Ninguém no Gol) é recheado com expressões chulas, de baixo calão. São 11 histórias em quadrinhos, feitas por diferentes artistas, que abordam temas relacionados a futebol - algumas usam também a conotação sexual. Uma das histórias faz uma caricatura de um programa de mesa-redonda de futebol na TV. Enquanto o comentarista faz perguntas sobre sexo, jogadores e treinadores respondem com clichês de programas esportivos, como o "atleta tem de se adaptar a qualquer posição".

O governo de São Paulo afirmou que houve "falha" na escolha, pois o material é "inadequado para alunos dessa idade". Ótimo. Reconhecer o erro é importante. Mas, aparentemente, o governo entende que o conteúdo seria adequado para alunos de outra faixa etária. Lamentável! É assim que se pretende melhorar a qualidade de ensino? São Paulo, que foi capaz de produzir uma USP, assiste hoje à demissão do dever de educar. A pedagogia do palavrão e a metodologia da obscenidade estão ocupando o lugar da educação de qualidade. Espero, sinceramente, que o episódio seja pontual e que o governador José Serra, homem de sólida formação acadêmica, e seu secretário de Educação, o ex-ministro Paulo Renato, tomem providências definitivas.

Na verdade, amigo leitor, uma onda de intolerância avança sobre a sociedade. Discriminados assumem a bandeira da discriminação. O tema da sexualidade passou a gerar novos dogmas e novos tabus. E os governos, num espasmo de totalitarismo, querem impor à sociedade um modo único de pensar, de ver e de sentir.

Uma coisa é o combate à discriminação, urgente e necessário. Outra, totalmente diferente, é o proselitismo de uma opção de vida. Não cabe ao governo, com manuais, cartilhas e material didático, formatar a cabeça dos brasileiros. Tal estratégia, claramente delineada no discurso do secretário Paulo Vanucchi, tem nome: totalitarismo. O governo deve impedir os abusos da homofobia, mas não pode impor um modelo de família que não bate com as raízes culturais do Brasil e nem sequer está em sintonia com o sentir da imensa maioria da população.

Se tivessem aprovado o Conselho Federal de Jornalismo, uma frustrada tentativa de garrotear a liberdade de imprensa e de expressão, eu certamente não publicaria este artigo. Não conseguiram. Felizmente. Escrevo com absoluta liberdade. E outros que de mim discordem podem defender seus pontos de vista com a mesma liberdade.

A intolerância atual é uma nova "ideologia", ou seja, uma cosmovisão - um conjunto global de ideias fechado em si mesmo -, que pretende ser a "única verdade", racional, a única digna de ser levada em consideração na cultura, na política, na legislação, na educação, etc. Tal como as políticas nascidas das ideologias totalitárias, a atual intolerância execra - sem dar audiência ao adversário nem manter respeito por ele - os pensamentos que divergem dos seus "dogmas" e não hesita em mobilizar a "inquisição" de certos setores para achincalhar - sem o menor respeito pelo diálogo - as ideias ou posições que se opõem ao seu dogmatismo. Alegará que são interferências do pensamento conservador e liberal, quando um verdadeiro democrata deveria pensar apenas que são outros modos de pensar de outros cidadãos, que têm tantos direitos como eles.

Aborrece-me a intolerância dos "tolerantes". Incomoda-me o dogmatismo das falanges autoritárias. Respeito a divergência e convivo com o contraditório. Sem problema. Mas não duvido que é na família, na família tradicional, mais do que em qualquer outro quadro de convivência, o "lugar" onde podem ser cultivados os valores, as virtudes e as competências que constituem o melhor fundamento da educação para a cidadania.

Carlos Alberto Di Franco, doutor em Comunicação pela Universidade de Navarra, professor de Ética, é diretor do Master em
Jornalismo (www.masteremjornalismo.org.br) e da Di Franco-Consultoria em Estratégia de Mídia (www.consultoradifranco.com)
E-mail: difranco@iics.org.br

Espanhóis rejeitam reforma que facilitaria aborto, diz jornal

01/06/2009 - 12h18

colaboração para a Folha Online

Enquete realizada pelo instituto Metroscopia para o jornal espanhol "El País" revela que 64% dos cidadãos não concordam com a proposta de reforma da Lei do Aborto feita pelo premiê, José Luis Rodríguez Zapatero. Se aprovada, a reforma irá descriminalizar a interrupção da gravidez e permitir que adolescentes entre 16 anos e 18 anos não precisem de autorização dos pais para abortar.
Zapatero afirma que a reforma impedirá que os pais "interfiram" na decisão das filhas. "Com a regra, preservamos uma situação excepcional. Trata-se de uma decisão íntima da mulher, pois ela terá a responsabilidade de uma gravidez por toda a vida."
Grande parte dos países europeus permite que as adolescentes abortem sem a permissão dos pais. No entanto, na Espanha, a reforma tem sido contestada pelos próprios socialistas do Partido Socialista Operário Espanhol (PSOE), de Zapatero. Entre os socialistas, 56% são contra a reforma. Conforme o "El País", o mais preocupante, para o PSOE, é que mais da metade dos seus eleitores são contra o projeto. Entre os que votam no Partido Popular (PP), essa porcentagem sobe para 88%.
Na pesquisa, só 30% dos entrevistados disseram defender o aborto para adolescentes.
Na divisão por gênero, a proposta é quase tão rejeitada pelas mulheres (67%) quanto pelos homens (61%).
Em busca de consenso, deputados do PSOE pediram que a lei obrigue não o consentimento, mas o conhecimento paterno. Outros, como o presidente do Congresso, José Bono, deram a entender que preferem um texto mais leve.
O PP fez da reforma da Lei do Aborto --e, em especial, do debate acerca da permissão dos pais-- uma das bases de sua campanha ao Parlamento Europeu. O candidato popular, Jaime Mayor Oreja, se alinhou com a ala mais rígida da Igreja Católica.
Na enquete, realizada entre os dias 27 e 28 de maio com mil pessoas --por telefone--, o PP aparece 3,7 pontos à frente do PSOE nas eleições para o Parlamento Europeu de 7 de julho que vem.

Legalização do aborto aumenta mortes maternas

Abaixo segue uma tradução livre de um documento (original aqui) divulgado pela organização Minnesota Citizens Concerned for Life no qual é demonstrado que o argumento de que a legalização do aborto leva à redução da mortalidade materna só faz sentido na cabeça de abortistas.

As evidências indicam justamente o contrário. O que diminui mesmo a mortalidade materna é assistência médica de qualidade amplamente disponível para as mulheres, principalmente as que estão passando por uma gestação.


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A legalização do aborto protege a saúde da mulher?

Lidando com o argumento para a expansão do acesso ao aborto

A Organização Mundial de Saúde (OMS) estima que são feitos 42 milhões de abortos a cada ano, e, destes, 20 milhões são ilegais ou executados clandestinamente. Segundo a OMS, abortos inseguros causam por volta de 65.000 a 70.000 mortes maternas a cada ano(1), 99% das quais ocorrendo nos países em desenvolvimento(2).

Baseados nestes números (que são altamente questionáveis e não confiáveis)(3), alguns grupos argumentam que, acabando com leis que proíbem ou restringem o aborto, isto ajudaria a prevenir que muitas mulheres morressem ou sofressem seqüelas resultantes de abortos ilegais. "A legalização do aborto e a disponibilização de serviços de planejamento familiar causam considerável queda de mortes relacionadas ao aborto", declara a International Planned Parenthood Federation(4).

Porém tal conclusão é contrária à evidência disponível. A falta de modernos tratamentos médicos e assistência médica de qualidade, e não a proibição do aborto, resulta em altas taxas de mortalidade materna. A legalização do aborto na verdade leva a mais abortos -- e nos países em desenvolvimento, onde a assistência médica às mães é deficiente, isto aumentaria o número de mulheres que morrem ou sofrem seqüelas por causa de abortos.

O Problema da mortalidade materna

Condições maternas, relacionadas ao aborto ou não, causam 1.9% das mortes mundiais para mulheres e meninas(5). A mortalidade materna permanece um sério problema nos países em desenvolvimento.

Em muitos casos, faltam a mais básica assistência médica ou cuidados pré-natais. Muitas vezes não há atendimento ao parto, o ambiente hospitalar não tem condições sanitárias mínimas, instalações de emergência e suprimentos são inexistentes ou inadequados, médicos não são treinados ou não possuem equipamentos para lidar com situações que envolvam trauma, e suprimentos médicos e cirúrgicos básicos tais como antibióticos e luvas esterilizadas são insuficientes ou inexistentes. Tais perigos para uma mulher grávida estão presentes se uma gravidez é terminada por aborto ou pelo nascimento da criança.

A solução: melhor assistência

A maioria das mortes maternas podem ser prevenidas através de nutrição adequada, assistência médica básica e um bom acompanhamento obstétrico durante a gestação, parto e pós-parto. Nos países desenvolvidos, o declínio nos índices de mortalidade materna coincidem "com o desenvolvimento de técnicas obstétricas e a melhora na saúde em geral da mulher" (de 1935 a 1950), de acordo com a OMS(6). Isto ocorreu bem antes da legalização do aborto se espalhar por todo o mundo desenvolvido.

Nos EUA o aborto era um procedimento relativamente seguro bem antes que ele se tornasse legal, em 1973 (Figs. 1 e 2). Dra. Mary Calderone, que foi diretora médica da Planned Parenthood, concluiu, em 1960, que "o aborto, seja terapêutico ou ilegal, não é mais perigoso, devido a estar sendo feito por médicos"(7).

Dr. Bernard Nathanson, que foi um líder abortista e co-fundador da NARAL Pro-Choice America, escreveu em 1979 que o argumento que mulheres nos EUA poderiam morrer devido a abortos ilegais e inseguros "é agora totalmente inválido e obsoleto" porque "antibióticos e outros avanços diminuíram dramaticamente a taxa de mortes devidas a abortos"(8).

Na Inglaterra e no País de Gales, a taxa de mortalidade materna caiu de um pico de 550 (mortes maternas por 100.000 nascimentos vivos) em 1931 para menos de 50 em 1960. Esta queda considerável é devida ao uso de antibióticos, transfusões de sangue e ao tratamento da hipertensão durante a gravidez(9).

De acordo com o Relatório dos Países em Desenvolvimento, do Banco Mundial, Malásia e Sri Lanka reduziram consideravelmente as taxas de mortalidade materna através da ampla disponibilização de parteiras e enfermeiras nas áreas rurais e também pela disponibilização de medicamentos apropriados e equipamentos, melhorias na comunicação, transporte e serviços de apoio. No Sri Lanka, a taxa mortalidade materna -- o número de mortes maternas por 100.000 nascimentos vivos -- caiu de 2.136 em 1930 para 24 em 1996. Na Malásia, ela caiu de 1.088 em 1933 para apenas 19 em 1997(10).

Dr. Neelam Dhingra, da OMS, atestou que hemorragias severas contribuem para até 44% das mortes maternas na África, muitas das quais podem ser prevenidas simplesmente através do acesso a sangue de qualidade(11). A moderna Medicina e uma melhor assistência médica são a chave para proteger as vidas e a saúde das mulheres.



Aborto legalizado não significa aborto seguro

Contrário ao que declara a International Planned Parenthood Federation e outros grupos pró legalização do aborto, não existe uma relação direta entre leis permissivas ao aborto e taxas de mortalidade materna. Na verdade, a legalização do aborto nada faz para resolver o problema da falta de assistência médica dos países em desenvolvimento.

De acordo com a United Nations Population Division (UNPD), não tem havido substancial decréscimo na mortalidade materna ou mortalidade infantil desde a Conferência Internacional para População e Desenvolvimento no Cairo, em 1994, e a 4a. Conferência Mundial sobre as Mulheres em Pequim, em 1995(12). Isto é verdade apesar de sabermos que, no mesmo período, mais mulheres tiveram acesso ao aborto do nunca antes na história.

Os exemplos de Rússia, EUA, Irlanda e Polônia demonstra que nações com severas restrições ao aborto têm, na verdade, taxas mais baixas de mortalidade materna do que países onde o aborto é totalmente liberado. Os dados da Figura 3 foram tirados do Relatório da Mortalidade Mundial de 2005, publicado pela UNPD(13).

Na Índia, o aborto é amplamente permitido, mas mortes maternas são comuns devido a inseguras condições médicas. De acordo com "Políticas sobre Aborto: Um Relatório Global", da UNPD, "Apesar da liberação do aborto, abortos inseguros têm contribuído para as altas taxas de mortalidade materna na Índia (570 mortes maternas por 100.000 nascimentos vivos em 1990)"(14).

Em contraste a isto, a taxa de mortalidade materna no Paraguai é muito menor, apesar da proibição da maioria dos abortos e do fato que "abortos clandestinos são comuns". A taxa está em declínio -- "de 300 mortes por 100.000 nascimentos vivos em 1986 para a mais recente estimativa governamental, em 1995, de 190 mortes por 100.000 nascimentos vivos"(15).

A evidência mostra que a taxa de mortalidade materna de um país é determinada mais pela qualidade da assistência médica do que pelo status legal do aborto. Complicações no aborto não são uma conseqüência da legalidade do procedimento, mas das condições médicas em que o aborto é feito.


Aborto legalizado significa mais abortos

A legalização do aborto pode não tornar o procedimento menos arriscado, mas ela tem uma clara conseqüência: a legalização do aborto aumenta o número de abortos. Nos EUA, o número de abortos saltou de estimados 98.000 por ano para um pico de 1,6 milhões após a total legalização em 1973(16). É o que explica Stanley Henshaw do Guttmacher Institute (entidade militante pelo aborto legalizado): "Na maioria dos países, é comum após a legalização que o número de abortos cresçam acentuadamente por vários anos, seguida de uma estabilização, exatamente como vimos acontecer nos EUA"(17).

Na África do Sul, por exemplo, o número de abortos cresceu de estimados 1.600 em 1996, o ano anterior ao qual o aborto foi legalizado, para 85.621 em 2005.(18) Em contraste a isto, quando a Polônia finalmente proibiu a maioria dos abortos após décadas de liberação e financiamento governamental, as evidências sugerem que o número total de abortos (legais e ilegais) diminuiu drasticamente.(19)

É plausível concluir que dado o substancial aumento no número total de abortos em seguida à legalização, o número (assim como a taxa) de mortes maternas relacionadas ao aborto devem na verdade aumentar, e não diminuir.

Aborto legalizado é uma grave ameaça

Nos países em desenvolvimento, o perigo da legalização do aborto é especialmente sensível. Jeanne E. Head, enfermeira, representante da ONU junto ao National Right do Life Committee, explica: "As mulheres, que em geral correm risco antes de um aborto porque lhes faltam acesso a médicos, a hospitais ou a antibióticos, sofrerão dos mesmos males após a legalização do aborto. E se a legalização cria uma maior demanda por abortos, como acontece na maioria dos países, mais mulheres estarão competindo pelos já limitados recursos médicos".(20)

Mesmo nos EUA, país de ponta na Medicina Moderna, por volta de 400 mulheres morreram devido ao aborto desde que o procedimento foi amplamente legalizado em 1973.(21)

O aborto jamais é inteiramente seguro. Mas nos países em desenvolvimento sem a devida assistência médica às mulheres grávidas, o aumento de abortos que resultaria da legalização não apenas aumentaria a mortalidade materna, como também teria um efeito devastador na vida e saúde de mulheres e meninas.

Leis contrárias ao aborto são necessárias para proteger não apenas a criança não-nascida, mas também a vida de suas mães. As mulheres necessitam de apoio e cuidados médicos, e não de abortos.


Uma questão de justiça

A Justiça requer que leis protejam a dignidade e direitos de cada membro da família humana, tanto os não-nascidos quanto suas mães. O argumento da "mortalidade materna" para a liberação do aborto é completamente falho -- legalização do aborto apenas leva a mais abortos, e, como resultado disto, mais complicações relacionadas ao aborto para as mulheres. Uma melhor assistência médica, e não abortos, é a solução para o problema de mortes maternas nos países em desenvolvimento.



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Notas

1) Fifty-Seventh World Health Assembly, Report by the Secretariat on Reproductive Health, A57/13 (15 April 2004).

2) World Health Organization, Unsafe Abortion: Global and Regional Estimates of the Incidence of Unsafe Abortion and Associated Mortality in 2003, 5th ed. (Geneva: World Health Organization, 2007).

3) Em seu relatório sobre Aborto Ilegal, de 2007, a OMS admite: "Onde o aborto é restrito e largamente inacessível, ou mesmo legal mas de difícil acesso, pouca informação está disponível para a prática do aborto. Em tais circunstâncias, é difícil quantificar ou classificar o aborto. Qualquer informação disponível é inevitavelmente não confiável". A United Nations Population Division (UNPD) declara que estas estimativas são "muito especulativas, já que dados confiáveis faltam para a grande maioria dos países". Nações Unidas, Monitoramento da População Mundial, 2002 (New York: United Nations, 2004), Sales No. E.02.XIII.14. Jeanne E. Head, enfermeira, assim resume: "Dados insuficientes tornam uma acurada idéia do status do aborto e de legislações favoráveis ao aborto em todo o mundo uma tarefa virtualmente impossível. As estimativas da OMS são largamente produzidas por estimativas estatísticas, baseadas em dados insuficientes, e em premissas sem qualquer fundamentação". - Jeanne E. Head e Laura Hussey, "O acesso ao aborto protege a saúde da mulher?", The World & I, June 2004, 52-57.

4) “Abortion,” International Planned Parenthood Federation, (20 April 2009).

5) World Health Organization, World Health Report 2002 (Geneva: World Health Organization, 2002).

6) World Health Organization, Maternal Mortality: A Global Factbook (Geneva: World Health Organization, 1991).

7) Mary S. Calderone, “Illegal Abortion as a Public Health Problem", American Journal of Public Health 50 (July 1960): 949.

8) Bernard N. Nathanson and Richard N. Ostling, Aborting America (New York: Doubleday, 1979), 194.

9) World Health Organization, Maternal Mortality: A Global Factbook.

10) The World Bank, World Development Report 2006 (July 2004).

11) Representative Smith (NJ), “Reducing Maternal Mortality Both at Home and Abroad,” Congressional Record 154: 82 (19 May 2008), H4125.

12) United Nations, World Mortality Report 2005 (New York: United Nations, 2006), Sales No. E.06.XIII.3.

13) Ibid.

14) United Nations, Abortion Policies: A Global Review (New York: United Nations, 2002), Sales No. E.01.XIII.18, 56-58.

15) United Nations, Abortion Policies: A Global Review (New York: United Nations, 2002), Sales No. E.02.XIII.5, 29-31.

16) Uma equipe de pesquisas, em 1981, utilizou um confiável modelo matemático para estimar uma média de 98.000 abortos ilegais a cada ano nos 32 anos precedentes à legalização. Barbara J. Syska, Thomas W. Hilgers, M.D., and Dennis O’Hare, “An Objective Model for Estimating Criminal Abortions and Its Implications for Public Policy,” in New Perspectives on Human Abortion, ed. Thomas W. Hilgers, M.D., Dennis J. Horan and David Mall (Frederick, MD: University Publications of America, 1981).

17) Stanley Henshaw, Guttmacher Institute (16 June 1994), Press release.

18) Wm. Robert Johnston, “Historical abortion statistics, South Africa,” Johnston’s Archive, 26 October 2008, (22 April 2009).

19) Wm. Robert Johnston, “Data on abortion decrease in Poland,” Johnston’s Archive, 26 May 2008, (22 April 2009).

20) Jeanne E. Head and Laura Hussey, 56.

21) Centers for Disease Control and Prevention, “Abortion Surveillance—United States, 2005,” Morbidity and Mortality Weekly Report 57, no. SS-13 (28 November 2008).

http://contra-o-aborto.blogspot.com/2009/06/legalizacao-do-aborto-aumenta-mortes.html

Mulher surpreende médicos ao levar vida normal com cérebro danificado

31/05/2009 - 14h09

http://www1. folha.uol. com.br/folha/ equilibrio/ noticias/ ult263u574445. shtml

Há algumas semanas, ao passar por uma ressonância magnética, a jornalista catarinense Silvia Zamboni, 40, deixou o médico desconcertado: ele não podia acreditar que o cérebro que observava no monitor, com lesões seríssimas em áreas extensas, era o de uma pessoa absolutamente normal.
O esperado seria encontrar alguém com sérias dificuldades para falar, caminhar ou comer. Ou até em estado vegetativo.
Ele não estava errado. Cinco anos atrás, diante de imagens semelhantes, outros médicos nem acreditaram que ela sobreviveria ao acidente que sofrera. Seu carro havia se chocado contra uma árvore depois de ter sido fechado por um caminhão, numa noite chuvosa, no interior de Santa Catarina.
Além do traumatismo craniano, ela tinha costelas quebradas, que haviam perfurado um pulmão. Uma orelha foi praticamente decepada. O socorro só veio após duas horas.
A falta de oxigenação por conta da parada cardíaca havia deixado lesões graves e irreversíveis no cérebro. Os médicos que a atenderam diziam que a morte era questão de horas.
Uma semana após completar 35 anos, em março de 2004, Silvia estava em coma profundo, no grau 3 da escala de Glasgow -o mais baixo-, que mede o nível de consciência após uma lesão cerebral. As estatísticas estavam contra ela -os médicos estimaram em 1% a chance de sobrevivência.

Papel da mãe
Apesar da resistência dos profissionais, sua mãe, Marilda, resolveu levá-la a um centro maior, em Florianópolis. "Para que, se ela está quase morta?", ouviu de um deles. No outro hospital, escutou o mesmo prognóstico: caso a filha sobrevivesse, as chances de ficar em estado vegetativo eram enormes. Mas Marilda acreditava que ainda "havia esperança".
Fazia três anos que mãe e filha não se viam, apesar de morarem na mesma cidade. O reencontro se deu na UTI.
Nas visitas diárias ao hospital, sua mãe promoveu um bombardeio de estímulos. Fazia massagens em seu corpo com remédios homeopáticos, levou cremes e perfumes com os cheiros que ela conhecia, colou nas paredes fotos de todas as fases de sua vida e a logomarca da sua empresa, falava muito ao seu ouvido, sem parar de chamá-la pelo nome.
Quando não estava lá, deixava fones com músicas e mensagens gravadas. "Escutava sons, mas não sabia o que significavam" , diz Silvia, sobre o período em que esteve inconsciente. "Eu me lembro da voz da minha mãe me dando força." E de algumas frases soltas: "Não reage"; "não vai dar tempo".
Durante quase dois meses, nada mudou. A mãe chegou a ouvir se não seria melhor "deixar a natureza seguir seu curso". Mas perto de completar o segundo mês em coma, Silvia começou a dar os primeiros sinais de recuperação, com alguns movimentos involuntários dos membros e a capacidade de manter a respiração e a pressão por alguns momentos, sem o auxílio de aparelhos. O coma ficou menos profundo.
Quatro meses depois do acidente, os médicos avaliaram que já não havia nada mais a fazer no hospital. A vida havia se confirmado, diziam, mas Marilda teria um bebê para sempre. Silvia estava absolutamente dependente e sem a menor consciência de quem era. Em casa, foi atendida por profissionais como fonoaudióloga, enfermeiros e fisioterapeuta.

História reescrita
Com o apoio da equipe e da mãe, foi reaprendendo tudo, desde as ações mais básicas: andar, pronunciar palavras e, o mais difícil, abrir a boca e engolir. Depois, ainda precisou reaprender a ler, escrever e até reconhecer a função dos objetos mais simples, como o telefone.
Ao longo dos meses, foi passando por todas as etapas de seu desenvolvimento e reescrevendo a própria história. Teve uma fase de birras para comer e de medos para dormir. "Eu estava exatamente como uma criança", diz. "Quando tiraram a sonda nasogástrica [pela qual era alimentada], passei a cheirar tudo, como um cachorro."
Sem se lembrar de nada de sua vida antes do acidente, voltou a se interessar pelos assuntos que a motivavam e revelou os mesmos talentos de antes.
Motivada pela mãe, estudou piano, apesar de não se lembrar de que quando criança tinha aprendido a tocar. Quis cozinhar e vender tortas, exatamente como tinha feito na adolescência. Ao mesmo tempo, ia resgatando suas memórias.
Apesar de seu cérebro carregar as cicatrizes das lesões, hoje ela leva uma vida normal. Mora sozinha, namora, estuda, faz suas compras -só não voltou a trabalhar, ainda.
"É uma prova da plasticidade cerebral, em que os neurônios que sobreviveram encontram novos caminhos para se comunicar", diz o médico intensivista Thales Schott, que acompanhou sua recuperação.
Na visão dele, os cuidados da mãe, que morreu após um AVC no ano passado, foram fundamentais. "Foi isso que resgatou a vida de Silvia", diz.
Ainda há grandes lacunas de sua vida de que não lembra. "Hoje sou mais seletiva", afirma. Lembrar envolve um grande esforço mental, que ela não faz para acontecimentos que lhe causem tristeza.
Há quem volte de experiências como essa dizendo que escolheu a vida. "Acho que minha mãe escolheu por mim, e eu correspondi. " Hoje ela não faz planos para o futuro. "Ainda tenho muito o que recuperar."