sexta-feira, 31 de outubro de 2008

Mais de 70 anos? Não vale a pena reanimá-lo.

Uma casa de idosos holandeses queria impor limites de idade para a reanimação

Amesterdão - Uma casa de idosos, na Holanda, propôs em Agosto passado aos seus residentes com mais de 70 anos que assinassem uma declaração informando que não queriam ser reanimados, no caso de sofrerem algum tipo de ataque, a não ser que... (e neste campo se pormenorizam as excepções).

Assinado por Cármen Montón
Data: 18 Outubro 2008
Fonte: http://www.aceprensa.pt/articulos/2008/oct/18/mais-de-70-anos-no-vale-pena-reanim-lo/

A iniciativa do Lar Sint Pieters, em Amersfoort levou o Parlamento a reagir contra e as autoridades de saúde informaram que iriam proceder a uma investigação. Por fim, a residência geriátrica retirou a sua proposta, não sem afirmar que, num futuro próximo, a iria impor.

As pessoas que não estavam de férias reagiram com o habitual comportamento bipolar que estas notícias costumam provocar: ou extremamente assustadas com o facto de poderem vir a impor limites de idade à possibilidade de continuar a viver, ou a favor da referida tomada de posição, invocando o risco de obstinação terapêutica e a autonomia da pessoa sobre a sua própria vida. No semanário Elsevier, uma coluna relaciona esta medida com a "encosta escorregadia" da moral que deu origem à legalização da eutanásia, ao fazer depender do paciente o direito de decidir por si próprio o momento em que deve morrer ou o de ponderar as medidas terapêuticas em função dos seus custos e, ainda mais grave neste caso, impondo um limite de idade.

Para compreender melhor no seu contexto a medida, temos que ter em conta que na Holanda existem casas para idosos, com diferentes propostas de assistência, conforme o nível de dependência e outros lares, exclusivamente para idosos muito doentes. Nestes últimos trabalham médicos com uma especialidade que só existe nos Países Baixos. Aqui já funcionava, há quatro anos, com o consentimento da subsecretaria da saúde, a medida do «não desejo ser reanimado, a não ser que...», embora não associada à idade.

Contudo, na intenção manifestada recentemente pela Casa Sint Pieters em Blokland Gasthuis, trata-se de idosos em princípio, saudáveis, embora a velhice comporte sempre os seus achaques próprios.

«A política de não reanimar os idosos a partir dos 70 anos é um equívoco. Pessoas idosas vivem, normalmente, depois de serem reanimadas», afirma o cardiologista do hospital académico da Universidade de Amesterdão, Ruud Koster, membro do European Resuscitation Council (Conselho europeu para a reanimação).

De acordo com este médico, na Holanda, existe margem legal para recorrer ao desejo para não ser reanimado, mas também o direito a ser ajudado em caso de necessidade e a obrigação de prestar, a todos os indivíduos, cuidados médicos. A referida Casa procederia contra a lei negando aos seus residentes o que a lei estipula.

Koster apresenta percentagens de reanimação com êxito a partir de uma investigação realizada na Holanda do Norte. Também defende que haja em cada centro uma clara política de reanimação e pessoal com conhecimentos técnicos suficientes e que utilizem os meios mais modernos. «No acto de reanimar - afirma Koster numa entrevista - a rapidez e qualidade da ajuda são os primeiros requisitos para um bom resultado»
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Carmen Montón