terça-feira, 23 de setembro de 2008

"Sofria quando diziam que não havia vida em minha filha", diz mãe de anencéfala

http://cienciaesaud e.uol.com. br/ultnot/ 2008/09/16/ ult4477u990. jhtm

Piero Locatelli
De Brasília

Mônica Torres Lopes Sanches, que teve uma filha anencéfala, esteve presente na última audiência pública sobre a descriminalizaçã o da antecipação do parto nesses casos, realizada hoje no STF (Supremo Tribunal Federal), nesta terça-feira (16).

Depois de ter a anencefalia do feto constatada, em 2004, Mônica decidiu ter a filha. Naquele época, ela poderia ter interrompido a gravidez sob proteção de uma liminar expedida pelo ministro Ministro Marco Aurélio em 1º de julho de 2004 e que vigorou até 20 de outubro daquele ano. A liminar permitia a interrupção da gravidez em caso de feto anencéfalo sem a necessidade de uma autorização judicial.

O caso da filha dela, Giovana Lopes Sanches, foi típico dos anencéfalos. A menina viveu durante seis horas e quarenta e cinco minutos após nascer, em 25 de março de 2005. Teve certidão de nascimento e de óbito o que, segundo a mãe, faz dela uma "cidadã brasileira". Segundo Mônica, enquanto estava na UTI, a filha a reconheceu, e os batimentos aumentaram de 94 para 129.

Durante a gravidez, ela diz que "não teve esse sofrimento estúpido como se diz por aí", referindo-se ao sofrimento das mulheres que não podem interromper a gravidez citado por pessoas favoráveis ao aborto e que se pronunciaram nas audiências. "O que me fazia sofrer era quem não via vida na minha gravidez", complementa.

Ela diz que se a descriminalizaçã o da antecipação do parto em casos de bebês anencéfalos for aprovada, será como dizer que a vida da filha dela não valeu nada. "Como se a vida dela não fosse uma verdade, como se fosse uma verdade relativa", lamenta.

Nesta terça-feira (16) foi realizada a última sessão da audiência pública de debate sobre o tema. No encerramento, o ministro Marco Aurélio de Mello disse que se tivesse poder, constituiria um colegiado só de mulheres para julgar o tema que tem uma ligação tão direta com elas. O ministro e relator do processo disse também não haver pressa para a realização do julgamento, apesar de desejar que ele ocorra ainda em novembro deste ano.

Foram ouvidas hoje a ginecologista e obstetra Elizabeth Kipman Cerqueira, que defendeu a continuação da gravidez em caso de bebês anencéfalos, a socióloga Eleonora Menecucci de Oliveira, professora titular do Departamento de Medicina Preventiva da USP (Universidade de São Paulo), a ministra da Secretaria Especial de Políticas para as Mulheres, Nilcéia Freire, que denfenderam o direito de escolha das mães. Também foi ouvido hoje o advogado Luis Roberto Barroso, que entrou com o pedido no STF para descriminalizaçã o do aborto nesses casos.