segunda-feira, 4 de agosto de 2008

Pequena Marcela, ícone da luta anti-aborto, morre depois de 1 ano e 8 meses

NOTA: "...a morte pela aspiração do leite poderia ocorrer com uma criança sadia, por exemplo, e nada tem a ver com o problema que a Marcela apresentava. ..".

Bebê sem cérebro morre ao se engasgar com leite com 1 ano e 8 meses
Publicada em 03/08/2008 às 10h16m
Fabio Saraiva, Diário de S.Paulo
http://oglobo. globo.com/ sp/mat/2008/ 08/03/bebe_ sem_cerebro_ morre_ao_ se_engasgar_ com_leite_ com_1_ano_ 8_meses-54754779 9.asp

SÃO PAULO - Após desafiar a medicina e sobreviver por um ano, oito meses e doze dias, a menina Marcela de Jesus Ferreira morreu na sexta-feira. Ela nasceu sem cérebro, no dia 20 de novembro de 2006, em Patrocínio Paulista, a 413 quilômetros de São Paulo. A criança faleceu por volta das 22h, na Unidade de Terapia Intensiva (UTI), da Santa Casa de Franca.
Marcela sofreu uma parada respiratória, problema decorrente de uma pneumonia aspirativa. Ela, que sempre teve que ser alimentada pela mãe Cacilda Galante Ferreira, por meio de sonda, aspirou uma grande quantidade de leite por volta das 7h.
Ao verificar que a filha engasgou e estava arroxeada, a família a levou ao hospital de Patrocínio Paulista. De lá, ela foi transferida para a Santa Casa de Franca, cidade vizinha, onde foi medicada, mas não resistiu e acabou morrendo. Marcela foi sepultada às 17h deste sábado.
Segundo Márcia Beani, pediatra que acompanhou a família de Marcela desde antes do nascimento, Cacilda estava triste com o que ocorreu, mas sabia que tinha feito tudo o que pôde para a filha desde o seu nascimento.
- Ela sabia dos riscos desde a gravidez e quis seguir adiante. Durante a vida da criança, ela sempre se dedicou ao máximo para cuidar da filha - disse a pediatra.
Márcia Beani, que acompanhou de perto todas as etapas da vida de Marcela, afirma que casos como o da menina são extremamente raros.
- A maioria dos bebês que nascem com anencefalia (sem cérebro) consegue sobreviver por apenas algumas horas. Marcela, porém, não só viveu por mais de um ano, como vinha se desenvolvendo e até ganhou peso bem recentemente.
Durante os 20 meses de vida, o desenvolvimento de Marcela esteve dentro dos padrões (peso e altura) para uma criança normal. A especialista ressalta que a causa da morte da criança não tem nenhuma relação com a falta do cérebro.
- Achávamos que ela teria algum tipo de problema no futuro, pois com o desenvolvimento do corpo, ela poderia sofrer de falência múltipla dos órgãos, em razão da ausência cerebral. No entanto, a morte pela aspiração do leite poderia ocorrer com uma criança sadia, por exemplo, e nada tem a ver com o problema que a Marcela apresentava - diz.
Quando completou nove meses de vida, Marcela passou a receber benefício assistencial do INSS de um salário-mínimo. O pagamento era para ajudar a família com as despesas da criança. A mãe Cacilda passou a usar o dinheiro para comprar fraldas, roupas e alimentos.
O bebê passou grande parte do dia em aparelho de oxigênio, no colo da mãe. O equipamento garantia um ar mais puro à menina.
Nascida na Santa Casa de Patrocínio Paulista, a menina Marcela de Jesus Galante Ferreira passou a chamar a atenção do país sobretudo quando fez três meses, desafiando a ciência: nasceu sem o córtex cerebral e a calota craniana, o que caracteriza a anencefalia. Por causa dessa resistência, ganhou até comunidade no Orkut, batizada de "Força Marcela, Oramos Por Você".
A menina acabou virando ainda ícone do movimento antiaborto. "Minha decisão foi bastante clara. Jamais pensei em fazer isso", disse a mãe, Cacilda Galante Ferreira. Aos cinco meses, Marcela esboçava movimentos e sons, como gritos e choro. Cacilda ainda tinha esperança de vêla engatinhando e andando.
A festa do primeiro aniversário de Marcela, em novembro do ano passado, emocionou os moradores de Patrocínio Paulista. Além de festa e missa, alguns seguiram em romaria até a porta da casa de sua família para agradecer o "milagre". Até então, ela passara por uma tomografia computadorizada e duas ressonâncias magnéticas.