domingo, 4 de maio de 2008

Terapia com células-tronco embrionárias: os fins justificam os meios?

Dr. Israel Gomy, geneticista

Atualmente, não há nada tão publicamente debatido no mundo quanto as pesquisas de células-estaminais (popularmente, células-tronco). Vemos diariamente em todos os jornais, revistas, televisão. Inclusive foi tema de um dos debates mais aguerridos entre os candidatos à presidência dos Estados Unidos, John Kerry e George Bush. Finalmente, a Ciência está saindo dos invólucros dos laboratórios para os lares da população mundial. Porém ficam as perguntas: será que as pessoas leigas estão assimilando essas inovações científicas de forma correta? Será que os meios de comunicação não estão deformando ao invés de informando a opinião pública?

O que vemos na maioria das capas de revistas e nas manchetes de jornais é que as células-tronco são a verdadeira panacéia para males até então incuráveis como as doenças de Alzheimer e Parkinson, Diabetes, paralisias da medula espinhal, e outras doenças degenerativas.


Entretanto, é imprescindível saber como estas células são obtidas, qual seu potencial de diferenciação, regeneração, rejeição, crescimento e se podem causar danos à saúde, além daqueles da própria doença. Em primeiro lugar, existem células-tronco durante toda a vida humana, desde a concepção até a vida adulta. Se não houvessem, morreríamos de anemia em apenas 4 meses de vida, não teríamos mais unhas, cabelos, dentes, mucosa intestinal e qualquer ferimento seria eterno! Portanto, somos todos “regeneráveis”.

Entretanto, existem células com uma enorme plasticidade, que podem se diferenciar em qualquer tecido humano: as células-tronco de um embrião de apenas 4 dias de vida, que por isso são chamadas de totipotentes.

As células-tronco adultas são multi ou oligopotentes, que podem se diferenciar em alguns tecidos específicos (hematopoiético, muscular, ósseo, adiposo, cardiovascular, etc.) e são oriundas do tecido que as originou (medula óssea, cordão umbilical, coração, etc).

Pois bem, na literatura, as únicas pesquisas satisfatoriamente realizadas em pacientes com lesões cardíacas, medulares, diabetes mellitus, esclerose múltipla e diversas doenças hematológicas, foram feitas com células-tronco adultas. Entre essas pesquisas destaca-se a realizada pelo Dr. Hans Dohmman do Hospital pró-Cardíaco do Rio de Janeiro-RJ.

Em relação as células-tronco embrionárias humanas, já verificaram-se em recentes publicações em revistas muito bem conceituadas (Nature, Reproduction, Lancet, etc.) que, quando injetadas em ratos, ocasionaram teratomas (tumores de diversas linhagens celulares) em até 50% dos animais. Além de várias anormalidades genéticas também vistas no câncer, através de pesquisas feitas há mais de 15 anos por laboratórios conceituadíssimos de Biologia Celular, como o da Dra. Alice Teixeira, médica da Escola Paulista de Medicina da Universidade Federal de São Paulo.

Mas aí então pomo-nos a pensar: será que é lícito, além de submetê-los a um congelamento que per si já pode lesioná-los, retirar toda sua potencialidade vital? Para as Ciências Biológicas a vida se inicia, indubitavelmente, com a união dos patrimônios genéticos dos gametas masculino e feminino, constituindo um novo e único ser. Não é um dogma religioso ou pensamento filosófico: é uma lei natural!

Será que é lícito submeter os seres humanos a uma terapia que sacrifica outros seres humanos e ainda sujeitá-los a todos o{ efeitos potencialmente adversos para tal como a rejeição imunológica e o risco de tumores? Será que é lícito aliviar o sofrimento de uns com o extermínio de muitos? O uso de embriões humanos em pesquisa é um meio sem fins que o justifique, por mais nobres que o sejam. Se já existem avanços consideráveis com a pesquisa das células-tronco adultas, porque não estimulá-las, financiá-las e divulgá-las na mídia com maior ressonância? Talvez seja porque a Ciência está diante de um mercado cada vez mais ganancioso que não está para servir ao homem, e sim, para o homem servir à Ciência como “objeto” de pesquisa.